Discussões sobre sexismo, machismo, preconceitos relacionados a identidades de gênero e orientações sexuais foram uma tônica em 2015. Depois que entrei na ThoughtWorks pude entender mais de alguns destes temas por causa de atividades promovidas por grupos internos criados para que grupos oprimidos se sintam cada vez mais representados e seguros no ambiente de trabalho. Eu posso até entender a mentalidade das pessoas que se esquivam do tema alegando que “hoje em dia as coisas estão ficando muito complicadas”, porque sim, o processo de tornar uma sociedade mais inclusiva e diversa, com espaço de voz para todas as pessoas, é sim longo e complexo. Criar terminologias e classificações que simplificam a identificação das pessoas pode fazer com que essas sejam deglutidas de pronto pelo senso comum, mas também faz com que muitas pessoas não se sintam representadas na sociedade.
Nunca experimentou esse gostinho de não se sentir representado na sociedade (por exemplo, se você é um homem branco, cisgênero e heterossexual de classe média ou classe média alta)? Então, a regra número um para saber como lidar com todos os casos em que pessoas diferentes de você te contam que não se sentiram representadas ou respeitadas é nunca achar que esta pessoa está inventando ou exagerando. Lembre-se que o mundo como é hoje foi desenhado de forma excludente e preconceituosa e se você nunca foi oprimido não pode mesmo saber como funciona.
Mas, a consequência ainda mais grave de uma sociedade desenhada para representar poucas pessoas é a violência que as pessoas não representadas sofrem no dia a dia, por pessoas não acostumadas a respeitar pessoas (em geral) – respeitam apenas as pessoas-semelhantes.
É por essa violência, a violência sofrida por milhares de mulheres, pessoas negras, travestis, transgêneros e homossexuais, simplesmente por serem quem são, que é urgente aprendermos o respeito. E o respeito começa por eu entender quem você é e você entender quem eu sou, sem julgamentos, sem aferições, sem atribuições.
Para muita gente, falar desse assunto é incômodo e complicado mesmo. “Antigamente era mais simples”, dizem. Sim, sempre será mais simples o caminho que só atende a minoria, da mesma forma que as escolas públicas, “antigamente” (ou, quando o ensino não era universalizado e as escolas públicas atendiam uma amostra bem limitada da sociedade), eram melhores.
Não consigo imaginar nada mais incômodo, porém, do que acordar e ter que se fingir outra pessoa ou sair na rua todos os dias com medo de ser sexualmente agredida só porque é complicado e incômodo para as pessoas aprenderem a respeitar as outras.
Isso sim é um inaceitável incômodo e todos os discursos que tentam silenciá-lo ou minimizá-lo de alguma forma são, automaticamente, discursos conservadores de uma ordem que serve ao conforto de pouquíssimas pessoas.
ps: para facilitar a explicação para algumas pessoas, busquei algumas imagens explicativas na internet – são do Google Imagens, não sei a fonte exata delas, inserirei assim que souber. Se você souber, fique à vontade para comentar por aqui. Valeu 😉
*A sociedade jamais estará preparada para a diversidade enquanto evitar os encontros de pessoas diferentes (só se existisse um raio progressista-ativador-master-blaster, mas aí esse texto nem teria razão de ser).